Se a curiosidade matou o gato, pelo menos ele não morreu ignorante.
The truth is out there and inside us.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Quem disse que Deus é Deus?


Quem disse que Deus é Deus?



Quando Nietzsche afirmou que Deus estava morto, ele certamente causou a perplexidade e, por quê não, a revolta em milhares de almas que se dedicavam diariamente a propagar o contrário. O curioso é que a frase "Gott ist tot" – no original - continua assombrando e indignando muita gente. O problema é que somos muito bons em prestar atenção no emblemático e não entendemos o alegórico.

Tudo o que existe tem um nome. Até o que não pode ser visto ou caracterizado com precisão recebe definições. E damos nomes com muita naturalidade, como quem acredita piamente que o seu papel no mundo é nomear. O homem sempre quer ter um papel claro e objetivo em tudo o que se envolve, então geralmente importa ser e, quando não, saber quem foi o primeiro a distribuir alcunhas, pois o nome – que pode ser atribuído à alguém ou à alguma coisa por diversos motivos – ganha status de oficialidade. O homem gosta de chamar tudo pelo nome. Será? Pelo menos se sente mais confortável fazendo isso. Dar nomes é assunto muito sério no mundo dos homens. Em alguns casos requer, inclusive, a adoção de práticas jurídicas para legitimar o feito. Mas, acreditem, dar nomes não é apenas um artificio legal, é também um direito sagrado. Pelo menos para os homens literais que embalam suas Bíblias todos os dias antes de dormir. Está lá, no livro primeiro, em tom profético, “e o nome que o homem desse a cada ser vivo, esse seria o seu nome”. Curiosidade boba: quem deu a Deus o nome de Deus? 

Talvez no Éden, essa coisa do homem dar nomes e não se complicar com isso tenha funcionado perfeitamente. A questão é que já não vivemos no Éden. Então, e no caso de se discordar do homem que nomeou o que gostaríamos de chamar por outro nome? Desde quando nesse mundo um fala por todos? E, no fim das contas, não teríamos todos o mesmo direito de nomear? E se num belo dia eu acordar e quiser chamar o sol de qualquer outra coisa que não seja sol? Eu sei, vão dizer que isso não muda os fatos e que ele continuará sendo sol independentemente do meu querer. Pois bem, esse é o ponto. O nome sol não é um fato, é só um nome. Recorrente porque assim o tornamos. Então, parafraseando o mestre Paulo Freire, refaço aqui a minha curiosidade ingênuae a transformo em curiosidade epistemológica: Quem disse que Deus é Deus?

Algumas pessoas estão prontas para difamar e insultar Nietzsche simplesmente por que ele tratou o nome como nome. No entanto, o mais interessante de tudo é que essas pessoas fazem a mesma coisa, tratando o seu Deus como mero substantivo capaz de ser caracterizado e definido. Para elas e para mim escreveu Rubem Alves:


“Palavras são gaiolas. O falado é aquilo que a razão engaiola. Um Deus que pode ser engaiolado por palavras não é Deus. Deus é um “Passáro Encantado”. Para ele não há palavras”. 


Créditos da Imagem: Mario Gruber/Mão/Óleo sobre tela/1983

Postado por Alan na Segunda-feira 05 de abril de 2010 às  07:19.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se você simplesmente não ignorou esta informação. então deixe seu comentário.
/b/"Não deixes para a tarde o que podes fazer pela manhã"/b/